Nossos alunos do 6º ao 9º anos dialogaram com ativistas negros sobre questões relacionadas à população negra, a exemplo dos 136 anos da abolição da escravatura, realizada por meio da Lei Áurea, assinada pela princesa Isabel em 13 de maio de 1888. Entre ativistas, esteve estilista especializada em moda afro, Candy Tomé, que atua em sua cidade, Conceição da Feira, localizada na região feirense.
“Portugueses invadiram nossas terras, que já tinha seu povo, língua e cultura. Depois trouxeram africanos para serem escravizados aqui. Na África, muitos eram reis, rainhas e princesas. Com assinatura da Lei, cerca de 700 mil negros foram ‘libertos’, mas não tinham para onde ir, não sabiam o que fazer”, declarou.
Nativo do quilombo da Matinha dos Pretos, hoje distrito feirense da Matinha, Guda Moreno, vocalista do grupo de samba de roda Quixabeira da Matinha, falou um pouco sobre formação do lugar. “Na região existia a Fazenda Candeal, que tinha muitas pessoas escravizadas. Aquelas que conseguiam fugir se escondiam numa mata fechada, onde encontraram fonte de água. Assim surgiu a Matinha dos Pretos”, disse
Flávia Sacramento, estilista pioneira em moda afro em Feira de Santana, frisou importância do estilo africano. “Moda que faço é resistência, é ato político. Tecidos africanos possuem estampas que contam histórias. Para um casamento, por exemplo, criam-se tecidos cujos desenhos trazem história ancestral das famílias dos noivos. Às vezes recebo clientes que solicitam ‘fantasia’ africana. É quando utilizo da questão educativa para fazê-los compreender que roupa que faço não é fantasia, mas eles podem homenagear cultura negra através da vestimenta que elaboro”, frisou.
Estudantes da Uefs (Universidade Estadual de Feira de Santana), Maria Beatriz Passos e Pedro Henrique Andrade representaram a Unegro (União de Negros e Negras pela Igualdade). A estudante declarou que cotas raciais são políticas afirmativas necessárias para se tentar reduzir abismo existente entre brancos e negros no que diz respeito às oportunidades de crescimento na vida. Pedro Henrique lembrou que primeira Lei da Educação no Brasil, datada de 1837, proibia negros de irem à escola. Ele destacou ainda que, quando voto foi instituído, negros não podiam votar por não serem alfabetizados.
Eike Cavalcante, 6º ano, pontuou que aulas sobre esses temas e evento ajudam desconstruir narrativas equivocadas sobre história da população negra no Brasil, a exemplo da ‘romantização’ da Lei Áurea. Ana Carolina de Carvalho, 9º ano, enfatizou que discussões em aulas sobre tais temas e evento ‘abriram olhos’ de muitos dos seus colegas. Ela acrescentou que cotas raciais para ingresso nas faculdades são forma de levar representatividade negra para dentro das universidades e fazer com que tais instituições sejam realmente diversas. Candy Tomé e Guda Moreno dialogaram com turmas do 6º e 7º anos. Flávia Sacramento, Maria Beatriz Passos e Pedro Henrique Andrade trocaram ideais com estudantes dos 8º e 9º anos. Evento foi realizado na manhã da sexta-feira (24).