
Crédito da imagem: Thainá Dayube.
Conto bem-humorado: Rolou a festa? Imagina as tretas de um encontrão pelos 40 anos da Axé Music
Teve tensão no reencontro de rivais históricos e recentes, mas também a ‘reconciliação’ das grandes estrelas Ivete Sangalo e Claudia Leitte
Os primeiros convidados começam a chegar, mas quase nada está organizado no aniversário de 40 anos da Axé Music. Contratada de última hora, Lícia Fábio só teve tempo de colocar na mesa a tubaína e o bolo quadrado cercado por balas embaladas em papel crepom com franjas. Um níver retrô, pra lembrar os bons e velhos tempos do movimento.
Luiz Caldas, um dos anfitriões, animadão, puxa uma língua de sogra e sopra no ouvido de Sarajane, que se atrapalha ao colocar o chapéu cone, largando o elástico no queixo. São só os primeiros inconvenientes da grande noite. “Ô, Luizinho, eu tô ligado em você-ê”, avisa ela, repreendendo. De repente, chega um bando de gente e a ideia de Sara é manter a turma o mais próxima possível. “Vamos abrir a roda”, diz, chamando todos para o mesmo círculo.
Compadre Washington responde com um “lá ele” enquanto se justifica dizendo que não deu pra trazer os dez filhos, porque não tem o contato de todos. Bell Marques, que ainda mora com os rebentos e cuida deles, trouxe os dois. “Eles vão cantar hoje!”, defende. Alguns torcem o nariz para o aviso do ‘homem da bandana’. Margareth Menezes, política e polida, percebe o mal estar e tenta reverter. “Não precisa incomodar os meninos.” E sugere uma apresentação dos Filhos de Jorge. “Quem é Jorge?”, questiona Carla Perez.
A família Axé está reunida pela primeira vez, com alguma boa vontade, desde a gravação do clipe ‘We Are The World Of Carnaval’, naquela campanha que ajudou as Obras Sociais Irmã Dulce a levantar uns trocados. Todos estão muito bem, exceto alguns. Netinho botou atestado, mas não viria para a festa mesmo se pudesse. Anda dizendo por aí que “o axé morreu” e que só sobrevive nele e em mais alguns da velha guarda.
Russo Passapusso [feirense e vocalista da BaianaSystem], de safra recente, chega na hora que alguém cita o comentário e reprova: “Tô virado numa goteira, traçando vários planos pra poder contra-atacar!”. Saulo, da ‘turma do deixa disso’, põe panos quentes: “Vem cá, pode chegar, deixa de besteira…”. Mas nem todo mundo chega com paciência, especialmente pela demora na distribuição dos petiscos.
Proativo, um pássaro voa até a cozinha, solta uns grãos de milho na panela, mas calcula errado o tempo de estouro. A pipoca do Kannário queima e Ricardo Chaves, crocodilo que é, ri da situação. O rapaz do buffet finalmente chega e é recebido por Tatau: “Filho, onde você estava… o que foi que aconteceu?”. Rango entregue, Xanddy passa o rodo nos salgados, Gilmelândia pula em cima dos doces e a briga por brigadeiro levanta poeira.
Ivete Sangalo, aconselhada pelo maridão, é a única que se mantém fora do “arerê”. Durval Lelys, preocupado com os que ainda estão a léguas e podem ficar sem papar, tenta botar ordem na casa: “Que galera é essa, mermão?”. Mas a confusão, que parecia ficar restrita à parte gastronômica, começa a escalar com a chegada dos demais convidados. Buja Ferreira, com uma fantasia de beija-flor, na entrada, oferece uma pintura de Timbalada a Denny Denan. Sem reconhecer o parceiro de banda, ele aceita e sai do local com uma inscrição nas costas: “Chute minha bunda!”.
Tuca Fernandes quase volta pra Minas Gerais depois de enxergar Manno Góes tomando um ‘príncipe maluco’ na saída, mas este se antecipa e diz: “Tchau! I have to go now!”. Menos mal. Enquanto isso, Tony Salles e Daniela Mercury, em corners opostos, se encaram enquanto recebem massagem nos ombros de Scheila e Malu, respectivamente. Nessa hora, pra aliviar a tensão, as cortinas de um palco se abrem e começa um show surpresa. “Quando Deus te desenhou, ele tava namorando…” são os versos iniciais da apresentação, que expõe, mais uma vez, a falta de organização geral. “Ih! hamaram o Armandinho errado”, exclama Márcio Victor, no megafone.
Carlinhos Brown, diligente, interrompe o show, pede desculpas e dispensa o artista, já emendando a convocação de outra estrela, sem necessariamente dizer quem era. Ligeiro receio de vaias. “Chegou Claudinha bagunceira, ôôô. Vou descendo a madeira, madeira, madeira, madeira!”, entoa Claudia Leitte ao abrir o setlist em grande estilo. O problema é que é o mesmo estilo de Ivete no quesito figurino: as duas vieram com roupas muito parecidas. “Acho que compraram na C&A”, comenta Alline Rosa num grupo de zap com Débora Brasil e Katê, estas ausentes por falta de convites, mas sorridentes com os inconvenientes.
Alobêned, Márcia Freire e Cid Guerreiro, sentados numa mesa mais afastada, também fofocam sobre a coincidência fashion. Ao perceber a gafe no figurino, Claudinha decide quebrar o gelo e, assim que corta o bolo, joga as armas pra lá e entrega o primeiro pedaço a Ivete. Depois de tanto empurra-empurra e quebraê, a raiz de todo bem parece ter sido plantada no coração dos convidados, que aplaudem a atitude. Veveta se sente tocada, sobe no palco, dá um abraço em Claudinha e faz um anúncio bombástico: “Vou voltar a te seguir no Instagram!”. Todos se emocionam, se abraçam, e antes de começar a tocar a banda dos meninos de Bell a galera, como eu, diz “já fui, Bamdamel!”.
Por João Gabriel Galdea, para o jornal Correio*.